INÍCIO
Esta é a segunda edição do Seminário Imagem, Pesquisa e Antropologia. A primeira edição foi organizada pelo VISURB e realizada entre 4 e 8 de Novembro de 2013 na UNIFESP. O objetivo do I SIPA era “reunir os grupos, núcleos e laboratórios que atuam em pesquisas na área da antropologia da imagem para discutir suas práticas de pesquisa a partir de uma reflexão sobre questões teóricas, epistemológicas e éticas que envolvem o uso da imagem no âmbito da pesquisa antropológica”. A partir dessas discussões avançamos em direção a entender que experiência e conhecimento antropológico são esses que construímos com as grafias e as imagens e agora propomos o recorte: “Imagens, grafias e suas múltiplas articulações na experiência antropológica”.
Se o tema fundamental continua sendo a imagem na pesquisa antropológica, tal como no I SIPA, consideramos agora que é a partir da justaposição de outras formas expressivas e grafias que a imagem será abordada. Bem como as suas controvérsias, aliás, também neste caso, intrínsecas à formação da antropologia e relacionada aos seus contextos. Um exemplo? Referindo-se à ambivalência de Boas sobre o uso da fotografia na pesquisa antropológica, Camille Joseph trata da relação mais positiva desse antropólogo com o desenho, que Boas consideraria como mais objetivo e científico do que a fotografia, em particular para o registro da cultura material. Isto em um momento em que a fotografia era considerada uma auxiliar valiosa como registro científico. Dissemos Boas? Mas, poderíamos recuar a outro clássico, pois as imagens – desenhos, diagramas, fotos e filmes e até mesmo pinturas – não estão ausentes dos mais clássicos textos antropológicos. As experimentações com as grafias, a estética como presença, poderíamos dizer, não seria afinal um duplo da antropologia?
APRESENTAÇÃO
Conforme Ingold, para o exercício da antropografia, conceito valise que ele sugere, é preciso prestar atenção ao movimento, ao que está acontecendo e enfrentar o desafio de descrever este movimento. O movimento que gera o conhecimento não científico, por exemplo, é também gerador do conhecimento científico. Seriam todos meshworked, mas sem a perda da sua singularidade. O que evoca o que diz Deleuze sobre a singularidade. Referindo-se à controversa questão sobre o sujeito (a constituição de si), Deleuze diz que por singularidade, é preciso entender não alguma coisa que se oponha ao universal, mas um elemento qualquer que pode ser prolongado até a vizinhança de outro, de maneira a formar uma junção. Uma multiplicidade: linhas, torções, dobras.
É possível ler em Ingold uma inspiração de Deleuze quando ele nos convida a imaginarmos duas linhas que se cruzam, A e B. A intersecção destas linhas definiria um ponto, P. Que diferença faria retratar A e B como pontos e P como a linha de sua conexão? Matematicamente, estas alternativas podem ser consideradas como simples transformação de uma a outra, assim, seriam formas de postular uma relação entre A e B, ou como intersecção ou como ligação. Mas, se não começarmos com uma abstração, com linhas geométricas, mas com linhas reais da vida - de movimento -, a diferença seria profunda. Ingold sugere, então, pensarmos não em uma rede de interações como podem aparecer convencionalmente, mas numa malha de linhas de fuga entrelaçadas. Afinal, no mundo que habitamos, diz ele, a vida não é um network, mas um meshwork.
Assim, conceito-desenho, imagem-descrição confundem-se em seu próprio traçado. Ora, este enredamento de linhas corresponde em imagem ao enredamento narrativo; habilidades, percepções, investimentos sensoriais, parecem tensionar os conceitos e a própria experiência.
É com este suposto do meshwork que o II Seminário Imagem, Pesquisa e Antropologia (SIPA) se apresenta. Seja nos temas abordados nas mesas de discussão, seja pelos grupos de pesquisa e laboratórios que o organizam: VISURB – Grupo de Pesquisas Visuais e Urbanas (UNIFESP); LÁGRIMA – Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (UNICAMP); NAIP – Núcleo de Antropologia da Imagem e Performance (UNESP); GRAVI – Grupo de Antropologia Visual (USP) e LISA - Laboratório de Imagem e Som em Antropologia.
A conferência de abertura, as mesas, mostras de filmes, oficina e exposição visual que compõe o II SIPA, procuram enveredar por um campo mais amplo, o da chamada antropologia das formas expressivas, na medida em que as contribuições tratam não apenas da imagem, mas igualmente de temas que a ela se articulam, num meshwork, tal como proposto por Ingold.O simpósio é composto por seis mesas, cada uma delas coordenada por um dos grupos que organizam o evento. São elas: “Precisa escrever? Ou basta desenhar? Antropologia e suas grafias” (LA'GRIMA), “Políticas e poéticas das imagens” (VISURB), “As formas do sensível e o conhecimento antropológico” (NAIP) e “Imagens e suas aparições – descortinando o implícito e o invisível” (GRAVI), "Outras magens" (LISA) e "Imagens e regimes de visibilidade" (LA'GRIMA / IHL-UNILAB).
Em relação ao I SIPA, atualmente estas discussões são mais recorrentes, e, portanto, este é também um momento necessário para reunir antropólogos que trabalham com estas questões em distintas áreas etnográficas. Não para um balanço, mas, quem sabe, para uma sistematização das múltiplas experiências contemporâneas.
Experiências em que há uma busca mais determinada de captar o sensível e o inteligível como vias do conhecimento, experiências de análise em que a incompletude das imagens fotográficas abre-se para a percepção do tempo e da memória que nelas se inscrevem e em que a metodologia de pesquisa impõe experimentações nas quais as meras anotações no caderno de campo mostram-se insuficientes.
O evento é aberto à comunidade acadêmico-científica, interessando especialmente pesquisadores, antropólogos e cientistas sociais e da área de humanidades, bem como estudantes de graduação e pós-graduação em antropologia.